A Guerra Civil dos Estados Unidos e sua representação em Forrest Gump.
No
longa-metragem, através de detalhes sutis, é possível observar referências a um
dos maiores acontecimentos da história dos Estados Unidos, a Guerra Civil
(1861-1865). Portanto, o objetivo da postagem de hoje será a contextualização
do período e das cenas nas quais ela é retratada.
Em uma das cenas iniciais do filme, Forrest Gump relata, de forma ingênua, a origem do seu nome. Ele explica que a sua mãe (Sr.a Gump) o nomeou assim, por conta de eles possuírem uma certa ancestralidade com um “grande general” que participou na Guerra Civil, o general Nathan Bedford Forrest.
Este ancestral
de Forrest realmente existiu, ele foi um traficante de escravos do século XIX,
que serviu como general do Exército dos Estados Confederados durante a Guerra
Civil. Além disto, ele também foi um dos membros fundadores da Ku Kux Klan, na
era da Reconstrução Pós Guerra-Civil.
Em uma cena mais adiante, Forrest caminha ao lado de Jenny (Robin Wright), mas é interrompido por valentões que começam a persegui-lo de carro. É no capô do carro que é possível observar a bandeira dos Estados Confederados da América. Esta bandeira foi um símbolo usado pelos estados do sul dos EUA durante a Guerra e é frequentemente associada com a escravidão e a supremacia branca. Vale ressaltar que a cena, assim como a origem de Forrest e sua família, são do estado de Alabama, sul dos Estados Unidos.
Apesar das cenas
serem breves, elas são significativas. Pois referenciam o conflito mais
sangrento da história dos Estados Unidos, além de demonstrarem as suas consequências
e implicâncias até os dias atuais. Mas, afinal, o que foi a Guerra Civil?
Desde as raízes coloniais, sempre houve distanciamentos e desavenças econômicas e sociais entre o norte e o sul dos Estados Unidos. Mas, ao longo do século XIX, com a expansão para o Oeste, essas discordâncias foram agravadas. O Norte dos Estados Unidos defendia que os novos territórios deveriam ser constituídos por uma forte indústria, composta por trabalhadores livres assalariados. O Sul, em contraponto, desejava que os novos territórios fossem constituídos por uma economia agrícola, voltada a um sistema de plantation escravista.
Outro ponto relevante
é a questão das taxas de importação. O Norte, em um franco processo de industrialização,
pautava-se na fabricação de seus próprios produtos. Sendo assim, para proteger
as recém indústrias dos Estados Unidos, foi empregado tarifas protecionistas para
limitar as importações. O Sul via essa política com maus olhos, pois sempre foi
o hábito dos Estados Unidos a importação dos produtos.
Em 1854, com a
aprovação da Lei Kansas-Nebraska, a intensificação das discordâncias aumentou. Pois,
ela anulava o Compromisso de Missouri de 1820, que estabelecia uma divisão
nacional entre os Estados pró-escravidão e dos antiescravidão, já que ela deixava
na escolha dos habitantes destes dois estados se eles iriam ser livres ou
escravistas (slave power).
No entanto, isso
resultou numa imigração em massa para o Kansas de ativistas de ambos os lados,
que acabou culminando num conflito direto, chamado de “Bleeding Kansas”. Tendo
como consequências, a vitória do movimento pró-escravidão neste território e o
surgimento do Partido Republicano. Esse episódio é, para muitos historiadores,
o primeiro conflito da Guerra Civil, e por assim dizer, um prólogo do que viria
a acontecer entre 1861 a 1865.
A rivalidade entre os dois lados alcançou os debates presidenciais em 1860. A vitória de Abraham Lincoln, do Partido Republicano, em cima do principal representante dos democratas, Stephen Douglas, gerou insatisfação no Sul dos Estados Unidos. Abraham Lincoln possuía uma posição, mesmo que de forma ambígua, contrária a escravidão nos novos territórios. A derrota nas eleições e o medo da ameaça dos valores sulistas culminaram na separação dos estados do sul com a União, declarando-se como os Estados Confederados da América.
Por conta da
declaração de independência do Sul, Lincoln inicia o seu governo com o medo de
uma reação internacional. Em detrimento disto, ele vai se preocupar com o
abastecimento dos fortes e arsenais federais do território, principalmente a
dos sulistas. Esse era o caso dos fortes Sumter e Pickens.
Através da
confusão e de informações mal difundidas sobre o objetivo da União com os fortes,
acabou provocando um ataque sulista ao Forte Sumter. Logo, “obrigando” a União
a declarar guerra com a Confederação e dar início em 1861, de forma oficial, com a
Guerra Civil.
O Norte possuía uma
larga vantagem em relação ao Sul: maior contingente militar, uma economia mais desenvolvida e uma infraestrutura melhor. Contudo, os Confederados possuíam o território
a seu favor, além da liderança de importantes estrategistas militares, como o
general Robert E. Lee.
O conflito foi o
mais sangrento da história dos Estados Unidos, cobrando a vida de 620 mil
soldados, além de outros 400 mil feridos. Sendo 360 mil mortes por parte dos
nortistas e 260 mil dos sulistas. As batalhas eram verdadeiros massacres, como
é o caso da Batalha de Gettysburg, na qual cerca de 30 mil sulistas morreram em
alguns dias de confronto.
No início do conflito a abolição da escravidão não era uma pauta principal. Contudo, ao longo de consecutivas derrotas do Norte, a União adotou a libertação dos escravos como sua principal bandeira. A nova postura foi motivada, principalmente, por fins políticos, tendo em vista que a defesa da abolição poderia aumentar a popularidade e apoio ao Lincoln nos Estados Unidos.
Depois de muitos
confrontos, a guerra terminou em maio de 1865, com a vitória dos nortistas, a
reintegração dos sulistas à União e a abolição definitiva da escravidão nos
Estados Unidos.
Por fim, depois
da Guerra Civil, houve a criação de vários grupos sulistas que objetificavam se
livrar da “tirania” do Norte e de reconstruí-lo aos moldes anteriores, do “Antebellum”.
Desta maneira, foram criados grupos como a Ku Kux Klan, de forte teor racista e
supremacista branco. Esse é o caso do citado general Nathan Bedford Forrest, o
parente do qual dá origem ao nome de Forrest Gump.
Referências
MARTIN, André.
Guerra de Secessão. In: MAGNOLI, Demétrio (org). História das Guerras.
São Paulo: Contexto, 2006.
IZECKSOHN, V. O
recrutamento de negros nas tropas da União durante a Guerra Civil americana. Afro-Ásia,
Salvador, n. 55, 2017.
SILVA, Daniel
Neves. "Guerra de Secessão"; Brasil Escola.
Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/historiag/guerra-secessao.htm.
Acesso em 03 de maio de 2025.


Não havia reparado na bandeira confederada que aparece no carro mencionado por vocês. Interessante esse detalhe sutil.
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